Palestra
Cidades Inteligentes e Mobilidade Sustentável – 2019

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Humberto Maciel visita o Paulistano em 28 de novembro, quando ministrará palestra sobre temas como cidades inteligentes e mobilidade sustentável. O evento é uma parceria entre as Diretorias Cultural e de Sustentabilidade

Dia 28/11, quinta-feira, 19h
Local Espaço Cultural

Consultor para projetos de mobilidade e conselheiro em empresas tradicionais e startups ligadas à mobilidade e serviços de transportes, Humberto Maciel também atua como professor de pós-graduação em disciplinas como Empreendedorismo e Sustentabilidade e Ferramentas Práticas da Inovação.

Mantém ainda dois blogs: um voltado para a mobilidade urbana sustentável e o segundo, sobre inteligência circular. Administrador por formação, o profissional concluiu MBA com ênfase em Marketing pela ESPM, estudou Business em Berkeley, Califórnia, e fez especialização em gestão de transportes pela Fundação Dom Cabral.

A seguir, Humberto relata parte de sua experiência profissional e aborda tópicos relacionados a assuntos que serão desenvolvidos na palestra.

Como iniciou seu envolvimento com a área de transporte sustentável?
Praticamente nasci dentro do setor de transportes, pois minha família tinha negócios de transporte rodoviário interestadual de passageiros e, desde criança, convivo em ambientes ligados à área.

O transporte urbano fez parte da minha carreira inicialmente em um grupo de empresas, do qual fui gerente administrativo. Tive ainda uma agência de viagens e turismo por alguns anos e, entre 1998 e 2004, ocupei o cargo de diretor adjunto de companhia de transportes rodoviários.

Morei e trabalhei em Genebra, na Suíça, entre 2006 e 2010, quando tive a oportunidade de viver em uma sociedade com conceitos bastante diferentes dos que eu tinha até então.

A relação da sociedade com o transporte público, o valor da mobilidade e a questão da sustentabilidade associada à responsabilidade social são aspectos muito impactantes para quem for minimamente observador e atento às relações de causa e consequências ligadas à qualidade de vida.

Retornei ao Brasil, onde atuei como diretor-executivo de uma empresa de transportes urbanos em Salvador, entre 2010 e 2015. Mas questões voltadas à sustentabilidade do setor de transportes, somadas à importância que o setor tem no Brasil, não deixaram de ser objeto de questionamento pra mim.

A mobilidade sustentável passou a nortear meus estudos e considerei que talvez tivesse caminho diferente a trilhar, que poderia usar parte da minha energia para iniciativas ligadas à mobilidade sustentável.

Como essa relação se aprofundou nos últimos anos?
Após diversos estudos, desenvolvi um modelo, ou framework, que se propõe a avaliar, comparar e classificar sistemas de transporte urbano à luz da sustentabilidade.

Os sistemas sustentáveis, por definição, devem se amparar de forma equilibrada nas dimensões social, ambiental e econômica. A partir dessa premissa, construíram-se variáveis objetivas em cada uma das dimensões e essas variáveis, por sua vez, são examinadas a partir de atributos mensuráveis.

O tema da mobilidade sustentável era de interesse de uma instituição ligada à economia digital e para a qual estava sendo desenvolvido um comitê, exatamente para estudar a relação da mobilidade com a economia digital.

A partir desse comitê, fui chamado para coordenar um grupo de pesquisas sobre inteligência urbana e cidades inteligentes.

O que são cidades inteligentes?
Cidades inteligentes são diferentes em culturas diferentes, em épocas diferentes e em contextos diferentes. O local que eu conheço onde há mais inteligência urbana aplicada é Singapura, mas há cidades nas quais a inteligência urbana é bem evidente.

Londres tem um sistema de monitoramento invejável, excelente qualidade de vida e diversificado uso de tecnologia em serviços públicos. Na China, há exemplos impressionantes de utilização de inteligência artificial, de IoT (Internet das Coisas) e robótica para a construção e manutenção de sociedades mais eficientes.

Esses casos evidenciam porque não há um conceito universal do que é uma cidade inteligente. Questões de saúde pública, mobilidade urbana e segurança são tratadas na China de maneira muito diferente do que são, por exemplo, na Inglaterra ou na Noruega.

Como o Brasil se encaixa numa realidade de mobilidade e cidades inteligentes?
O Brasil possui raros exemplos efetivos de inteligência urbana e nenhum deles comparável aos citados. Mas o setor privado e a sociedade já acordaram para a questão, e o espaço dado ao tema tem me impressionado muito nos tempos recentes.

A mobilidade inteligente é uma das áreas que elegemos para analisar no núcleo de estudos que coordeno. O conjunto de transportes do país apresenta problemas sistêmicos.

Ressaltaria a falta de qualidade da integração, tanto física quanto tarifária, que dificulta a adequação da oferta à demanda e faz com que o nível de desperdício e ociosidade seja enorme.

Outra questão relevante ao observarmos nossos sistemas de transportes urbanos é a pouca transparência e a baixa aderência aos planos diretores, prejudicando uma das principais variáveis: visão de futuro.

A questão da mobilidade não pode ser analisada isoladamente e separada do contexto econômico e social. Por exemplo, na questão ambiental, mudanças das fontes de energia nos transportes públicos só fazem sentido quando parte de um projeto econômico viável.

Caso contrário, representarão mais uma conta que a sociedade vai pagar para atender interesses específicos.